fevereiro 05, 2008

Tempos de mudança de “mentalidade de escravo”

Por: Avelino A. Calunda
Trinta e dois anos depois da independência, a penumbra da mentalidade de escravos ainda persiste. As implicações de efeitos pós-colonial deixaram traços no subquociente de muitos Angolanos o que tem em grande parte, impedido a consciencia colectiva avançar, para pegarmos em mão o nosso destino nas esferas sociais, economicas, culturais e outras possíveis e imaginaveis.
O complexo de inferioridade ainda próspera em muita gente na nossa sociedade e mesmo (infelizmente), para muitos que têm ou tiveram a possibilidade de viver (por muitos anos) em países "desenvolvidos".
Essa é infelizmente, a realidade que temos que enfrentar. A guerra fratricida que terminou apenas a cinco anos atrás, depois da independência, também não facilitou a que a maioria do nosso povo e muito particularmente, as gerações dos anos 70 e 80 (sem falar das precedentes), ultrapassassem este estado mental deplorável. Mas agora é já é tempo de dar conta que os tempos mudaram, que vivemos noutra época, em que cada indivíduo deve ser julgado pelos seus feitos/actos e não apenas pela sua pigmentação.

Nos últimos 15 dias a selecção Angolana de futebol trouxe alegria a todos Angolanos (e não só), como fruto do trabalho árduo de todos quantos têm trabalhado e ainda trabalham para obter tais resultados; os jogadores como equipa e o seu treinador, o Sr. Oliveira Gonçalves, em particular!

Curiosamente, ao visitar alguns fóruns na NET onde muitos deixam as suas opiniões, aparecem muitos compatriotas a sugerirem que o treinador actual deve ser substituído por um treinador Português, para supostamente atingirem-se melhores resultados. Deixam entender que o treinador nacional não é capaz de fazer o mesmo ou melhor que um treinador estrangeiro. Outros pensam mesmo que é a sorte (!) que tem permitido o Sr. Oliveira, obter os resultados que todos nós temos observado! Muitos talvez desconhecem que foi sob sua direcção que a selecção nacional esteve presente no mundial que realizou na Alemanha, para além doutros feitos, como a selecção de juniores, com a qual obtera o titulo Africano!

Para quem não sofre de amnésia, recorda que tivemos desde 1975, treinadores de países como o Brasil, e mesmo de nacionalidade Portuguesa, mas que nunca se chegou a obter resultados comparáveis!
É oportuno aqui realçar que das modalidades na qual o nosso país granjeia respeito e se impõe no continente: o Basket e o Andebol, os treinadores são todos nacionais. Só este facto, deveria ser suficiente para sermos positivamente orgulhosos dos técnicos nacionais!
Essa mentalidade é tão perniciosa e faz com que se mantenha em muitos Angolanos a "mentalidade de escravo", que ilude que só um treinador europeu/branco é capacitado de elevar a nossa selecção nos patamares do desporto (futebol) Africano e do mundo?

A preguiça intelectual que muitos sofrem, faz com os Europeus vejam os Africanos/Angolanos, em muitos aspectos, como menos valiosos e irrelevantes. Este auto-imposto complexo de inferioridade tem causado danos irreparáveis na nossa gente, mais do que o racismo branco, propriamente dito.
Nos negócios, também idem. Muitos preferem fazer negócios com o homem branco, com premissa de nós os negros não somos capazes de desenvolver ao cooperarmos entre nós; ao mesmo tempo que aceitamos (é claro), a parceria com Europeus, Americanos ou Asiáticos.

Por fim, enquanto entretermos tais crenças de inferioridade, não encontraremos a saída desta penumbra, para atingirmos a verdadeira independência. Neste sentido, a culpa não é necessariamente dos filhos dos ex-colonizadores, se continuarmos não valorizar o que temos de melhor.
Por esta e outras razões, é urgente a mudança de "mentalidade de escravo" que impede o desenvolvimento em diversos dominios no nosso país.

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