novembro 25, 2006

Para onde vamos, Angola

Por: Avelino A. Kalunda
Muitas vezes acreditamos (por descuido ou ingenuidade dissimulada, provavelmente) que quando se fala de riqueza, implica necessariamente dinheiro ganho e bens acumulados por um país ou seus habitantes. Certamente podemos pensar que a riqueza é determinada pela possessão de propriedades por membros duma sociedade. Recentemente ao fazer a leitura de num jornal económico, encontrei um texto publicitário que está assim: “O saber é capital. O resto é apenas dinheiro”. Este texto motivou-me a escrever as linhas que seguem, sustentadas com algumas buscas nos livros lidos e debates na Rádio, televisão e jornais-online, sobre os sectores de ensino, não somente em Angola como noutros países também. A simplicidade e a forma eloquente deste texto publicitário levou me a indagar sobre a percepção que em muitos casos (senão sempre) podemos ter sobre a riqueza no nosso país.

Depois de uma reflexão, conclui que de facto, o potencial para o nosso progresso (social, económico, tecnológico …) ou a pobreza, depende em grande parte, da riqueza gerada a partir do nosso capital do saber e tecnológico e não necessariamente dos minerais que abundam no subsolo do nosso país ou nos pedidos de atenuações de dívidas externas e o mendigo a assistência exterior.

Dito isto, é importante afirmar que deveriamos apostar, agora mais que nunca, a titulo individual e colectivo, no investimento educacional e no incentivo da massificação de tecnologias nas escolas e criar mais centros tecnicos afins, em todas provincias do país. Se reconhecermos esse problema, penso ser oportuno inquirir:Para onde vamos Angola?Em alguns países (França*1, Estados Unidos*2, Holanda*3), o sector de educação não é bem pago (baseando-se no custo de vida de cada país); e pelos vistos Angola*4 ainda não fez excepção!

Neste quadro, e no caso do nosso país (Angola), é justo perguntar que se a lapiseira é uma arma mais poderosa que a espada, porquê é que o professor não ganha mais que um empregado de balcão? Como se pode justificar um enfermeiro ganhar o mesmo que um porteiro? Ou um bagageiro mais que um bombeiro?
Ao sermos honestos connosco mesmo e ter a consciência destas disparidades, nesta fase, no nosso país, e darmos conta de que o capital do saber é mais importante, então deveriamos agora, promover vigorosamente a renascença de Angola. Esta renascença poderá nos colocar (penso modestamente) numa posição mais respeitável em África e no resto do mundo. (…). O respeito que se pode esperar dos outros (povos), depende da acumulação do saber duma sociedade; é o saber que poderá servir como motor para o desenvolvimento económico do país (Angola), do povo (angolano) e da sociedade (Angolana).
É de ter fé que quando a maioria dos homens e mulheres do saber no nosso país nutrir no seu quotidiano as novas ideias (tomara que seja ainda no decorrer deste século!) - ideias que actualmente beneficiam a Europa, a América e a Ásia; veremos no curto período de tempo, uma Angola mais digna. Sem o ganho desta consciência, nos será impossível sair da indeferença em que ainda nos encontramos. A fuga de quadros para os países que oferecem melhores condições de trabalho, onde a riqueza de cada indivíduo é mais justificada pela aplicação de paradigmas meritórios, é que faz com que por exemplo, a literatura Africana, duma maneira geral é mais lida em Paris, Londres ou Nova-York e não em Luanda, Maputo ou Praía.
Quando a maioria dos homens e mulheres do nosso país ganhar plena consciência, que de facto, o saber é mais importante e que o resto é apenas dinheiro, então, poderemos ter mais confiança no futuro. Até lá, e enquanto não darmos o devido valor a maior riqueza que temos (os homens e mulheres formados), é justo exclamar ou nos interrogar: Para onde vamos Angola?

Referências bibliograficas:
*1 - Débat sur les salaires des professeurs en France, sur France2 (canal 2 da Televisão Publica Francesa, Outubro 2005).
*2 - The Audacity of Hope, pág. 161-162, - Crown Publisher - 2006 (Barack Obama)
*3 - www.nrc.nl (jornal Holandês - online)
*4 – SINPROF (Rádio Eclesia – Nov. 2003)

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