março 01, 2006

A tomada de consciência

Por: A. A. Kalunda

O conceito metafísico “Causa e Efeito” dispensam debates desnecessários. Partindo desta base, é justo afirmar que, o que faz a existência de uma coisa, é resultado de uma situação do passado longínquo ou recente. Logo, o estado actual dos Angolanos em particular e dos Africanos duma maneira geral, tem raízes profundas que raramente metemos em enfoque, por recear sermos catalogados injustamente, de retrógrados, pela casta de “clair-voyantes”!


Ao ler o conteúdo que segue, espero que o leitor não faça a sua opinião, baseando-se nas meias realidades, aos quais estamos habituados. Não quero descontar as nossas responsabilidades como indivíduos, como povo e nação, nas nossas falhas.

Para todos Angolanos honestos consigo mesmos, e os amigos que compadecem connosco, sentem no espírito a falta de reflexão profunda e a tomada de consciência dos males que nos afligem. Quero sim que ganhemos consciência da nossa condição como indivíduos primeiramente e como sociedade por conseguinte, sem necessariamente procurarmos bodes expiatórios, sempre que nos saímos mal; mas que a verdade tem que ser exposta.

Ser Africano e negro aos olhos de muitos círculos intelectuais e académicos de algumas (?) sociedades ocidentais, é ainda, infelizmente, encarado como sendo ser humano de segundo plano. O negro Africano não só é sinónimo de incapaz de assumir o seu destino, e por conseguinte, perpetuamente mendigo e consequentemente rebaixado até mesmo pelos que paradoxalmente apregoam nos púlpitos o respeito dos direitos humanos, até ao dormirem.
O que consterna um observador atento, é constatar que tais menosprezos venham de alguns grupos de elites e indivíduos de países/sociedades que viveram em contacto com Angolanos/Africanos pretos, durante séculos: Portugal, França, Holanda, Espanha e Inglaterra.

A premissa desta classificação é primordialmente baseada em critério pigmentocrático, como se o valor do ser humano dependesse do seu aspecto fisiológico, mas não do carácter (para ecoar os ensinamentos do Dr. Martin Luther King Jr.).

Se é verdade irrefutável em Angola e no continente Africano em geral, que muitos dos nossos quadros ao assumirem as lideranças, atropelam as aspirações dos seus irmãos, urge aqui inquirir para saber, aonde foram formados estes mesmos “líderes”. Em que universidades, que academias militar, que Institutos superiores foram formados.
Não é porventura em Portugal? Espanha? França? Inglaterra? Estados Unidos? Rússia ou Alemanha?
Só depois de respondidas honestamente estas perguntas, tiraríamos ilações factuais, inequívocas e objectivas deste “mal d´être” de nós!

Num dos trabalhos remarcáveis sobre a condição dos povos negros no seu todo, o Diplomado em direito na universidade de Havard e fundador da TransAfrica, o Sr. Randall Robinson, intitulado “The Debt” (A Dívida), parafraseia uma citação de Edward Blyden (1903), ao escrever: “ …Nenhum povo ou nação pode beneficiar ou desenvolver-se plenamente, baseando-se sobre instituições que não são/foram fundadas sobre bases ou normas da sua própria cultura”.

Honestamente, se temos quadros formados nas instituições prestigiosas naqueles países, algo está para se desvendar e entendermos duma vez por todas, a pobre prestação de muitos dos nossos. Nós somos Angolanos/Africanos, negros e mistos ou então Kemitas, Edénicos ou qualquer outro nome pela qual deveria ser chamado este continente, que até os mais recalcitrantes, finalmente, reconhecem como o berço da humanidade, o primeiro e o último, o último e o primeiro.
O Angolano/Africano negro é a incarnação da fusão completa com o mundo, o intento da compreensão do espaço terrestre, a deserção do ego no centro dos cosmos e nenhum povo ou nação, não importa quão inteligente for, ou clamar ser; pode entender a profundeza dos estragos causados ao nosso intelecto colectivo, como resultado da inculcada doutrina da pseudo inferioridade dos homens e mulheres negros deste país/continente e da sua Diáspora. Os resquícios de tal doutrina emanados, do paradigma de ensino distorcido dos ditos mais “desenvolvidos” que, ao utilizarem discriminadamente a doutrina bíblica, tentaram eliminar a afirmação cultural Angolana e dos seus dispersos, tendendo ao mesmo tempo suprimir todos contributos dos negros, que são determinantes no avanço dessa nossa humanidade. (….). Nós somos Africanos e Angolanos.
Sim, negros! E fieis de ser. Ser negro/preto (se de cor, se pode falar), não é resultante da maldição, contrariamente ao que os “sábios” da ideologia predominante, dizem que é ou foi. Ser negro/preto é ter oferecido a sua pele e ter sido capaz de absorver todo o eflúvio cósmico. O povo negro é o fulgor da luz sobre a terra. Assumir as nossas identidades culturais não é de maneira nenhuma, sinónimo de rejeição dos outros. Antes pelo contrario. Essa percepção só é de indivíduos que sofrem de complexo de superioridade ou inferioridade, que tentam sempre que podem, deturpar as aspirações legítimas, ao toldarem os seus irmãos humanos gozarem deste direito Divinamente outorgado.
A rejeição destes princípios por alguns “Técnicos Superiores” na nossa sociedade, reflecte sem sombras de dúvidas, o que nas linhas anteriores foi mencionado. Eu penso que o verdadeiro ensino é aquele que inspira as pessoas a viverem em abundância do saber, ao aprenderem a começar com a vida, como acharem melhor para si.
Mas infelizmente, os paradigmas de ensino que herdamos não oferecem esta perspectiva (intelectualmente falando). Final: para o novo ano que se avizinha, desejo o melhor para todos, convicto que a tomada de consciência para o nosso desenvolvimento intelectual e social, passa também pela identificação e aceitação dos nossos erros e correcção dos mesmos.
Cristo disse: o pobre estará sempre connosco. Mas não disse que os pobres devem permanecer, pobres para sempre.Frederick Douglass escreveu que nada que existe sobre terra, feito pelo homem, que não pode ser desfeito. Nós não somos os que outros povos pensam que somos. Nós podemos fazer melhor. Não nos deixemos confinar nas etiquetas ou estereótipos. Caminhemos para o nosso destino.

3 comentários:

Anónimo disse...

è necessário ter uma Consciência elevada e perceber que raça não quer dizer cor (pigmentação), eu posso ter pele branca e ser de raça negra, é há os que têm pele negra e são de raça amarela e por fora, até se chegar à raça Eterna. São peças de um grande puzlle que é o Universo, a que chamam Deus, e do qual somos todos nós, independentemente da cor da familia em que escolhemos nascer...

Anónimo disse...

Vo ngeye u mwana Kongo dia Ntontela, tu ku dodokele mpasi vo wiza wa kota ku belo kieto kia sanga-ngunga ki yikilwanga vo:

www.LUVILA.com

Anónimo disse...

É interessante ressaltar que ser africano branco também não é das melhores posições do mundo. Além de sermos ignorados pelos nossos compatriotas que não nos permitem ser africanos, somos considerados "de segunda" pelos brancos do mundo... Vai entender!