maio 02, 2006

Angola e os riscos do Analfabetismo-Digital

Avelino A. Kalunda
Deve ser actualmente do conhecimento da maioria dos Angolanos (ou pelo menos para os que se acessam aos PCs e Internet, nas grandes aglomerações) que o desenvolvimento das sociedades modernas passa necessariamente pelas Tecnologias de informação e Comunicação ou Tecnologia Digital.Actualmente, quando se fala do analfabetismo-digital refere-se a uma situação em que uma pessoa, mesmo sabendo ler e escrever, não ser capaz de escrever textos, utilizando o processador como o MS Word, fazer cálculos no MS Excel, MS-works, OpenOffice, enviar correio electrónico (E-mail) ou navegando na Internet fazendo buscas de informações e mais … No nosso país tem havido boas iniciativas nos últimos anos, mesmo se o enfoque tem sido esporádico, sobre as T.I.C. (Tecnologias de Informação e Comunicação).
Requer-se saber agora, com pertinência, se, se tem realmente a percepção real, da parte dos actores económicos estatais e privados, do papel determinante destas tecnologias, no desenvolvimento da sociedade que queremos a pé de igualdade com as outras, nos próximos anos. No período de seis décadas, ocorreram avanços tecnológicos revolucionários na área da computação.
Depois da segunda guerra mundial, a tecnologia de computação saiu da automatização para tecnologia de informação e actualmente, para Tecnologia Digital. Nos países mais avançados como no Japão, Estados unidos da América, Alemanha, França, Inglaterra, Canada (para citar alguns), em cada mudança foram criadas empresas vocacionadas a esta área e os estilos de vida mudaram e fortunas foram também perdidas. Ironicamente, enquanto nos países de referência supracitados, o investimento nesta área é de realce, no nosso país, as pessoas a título individual e colectivo, parecem não darem conta dos riscos reais e graves que corremos, se não avançarmos com ritmo sustentado, nesta economia, cada dia mais globalizante.
As forças globais em tecnologias, investigação, ciência e comunicações – IBM, Microsoft (para não citar muitos) têm advertido que nos próximos anos, a maioria das empresas e instituições em muitos países, (o nosso país incluso) não admitirão nos postos de trabalho, pessoas desprovidas de conhecimentos (ao menos que tenham as noções básicas) de tecnologias de informação e comunicação, ou mais propriamente do uso de PC “Computador Pessoal".
Para podermos superar este atraso tecnológico, é imperativo que cada indivíduo (para além dos esforços que devem ser requeridos dos que estão a frente nesta batalha no país) tome consciência deste fenómeno a sério, e não esperar que sejam os terceiros a nos acordarem, para darmos conta do recado. Uma das formas para combater esta nova forma de analfabetismo é de melhorar as condições laborais do cidadão nacional tornando-o capaz de sustentar a formação tanto para ele/ela próprio/a e para a os seus filhos, neste ramo de tecnologias de Informação e comunicação. Caso a maioria da força viva do país não começar agora, a superar este atraso, os riscos são que muita gente será impedida no mercado do trabalho, por causa desta desvantagem tecnológica, nos anos que se aproximam. Como diz um provérbio Africano:
“Cada manhã uma gazela acorda nas planícies.
Ela sabe que deve correr mais rápido que o leão, ou rápido será morta.
Cada manhã um leão acorda.
Ele sabe que deve correr mais rápido que a gazela menos veloz, ou morre de fome.
Não importa se você é um leão ou uma gazela.
Ao nascer do sol, é aconselhável começar correr e rápido!”

No seu recente livro, Thomas Friedman “The world is Flat”1* (O Mundo está/ é Plano) aborda entre outros este fenómeno do nosso tempo. No referido livro, o autor descreve o risco que correm as nações que não investirem a sério na formação da sua população activa, nas novas tecnologias de informação ou tecnologia Digital e alude, como rapidamente o mundo está mudando, pondo em enfoque as tendências que estão a impulsionar esta mudança Digital e a globalização tecnológica do mundo; como o incremento dos chamados “Offshoring-(deslocalizaçao de fábricas para países com mão de obra qualificada e barata) e Outsourcing, “procedimento que consiste por parte das empresas multinacionais ou organizações, em obter mão-de-obra qualificada e barata (lógica do ganho obriga), fora dos países onde operam”. Abro aqui penso um parêntese para dar uma ilustração (que espero premonitória), que seria de por exemplo, a Sonangol, ser obrigada a recrutar a maioria do seu pessoal qualificado neste ramo, na Índia, por serem bem formados e baratos, na escassez do pessoal Angolano!
O exemplo da China e Índia, é que a 15 ou 25 anos idos, dependiam em grande parte, das importações de bens. Hoje já não é o caso. A China pelo menos já não se contenta em fabricar para o consumo interno. Ela tem a economia mais dinâmica do mundo, graças aos investimentos maciços nos recursos humanos e nas infra-estruturas e na implementação das novas tecnologias. Nos dias de hoje, a China como a Índia, se impõem também, porque forçaram a mudança nas regras de jogo na economia mundial, graças ao investimento, particularmente no capital humano, para fazer peso nesta revolução tecnológica.
No caso do nosso país, se podemos nos perdoar deste atraso nesta área por causa de em grande parte, da situação de guerra quase permanente que vivíamos, o mesmo já não será mais justificável nos próximos três a cinco anos (pelo menos nas grandes aglomerações do nosso país). Seria grave para o nosso país ter essas informações alarmantes e mantermo-nos néscios deste fenómeno.
Para avançarmos ao ritmo sustentável, será benéfico para a nossa sociedade (como tem feito a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola - Sonangol), a formar cada vez mais de quadros neste domínio, a promoção de workshops para atrair todos Angolanos que aqui no país se interessam nestas tecnologias. Tenho a convicção que no futuro (esperemos próximo), quando for vencido o pessimismo latente e crónico, que infelizmente ainda perdura em muitos dos nossos compatriotas, poderemos com a força de querer, erguer na nossa terra, quiçá, o nosso Silicon-Valley*2 ou o nosso Bangalore*3”!

A realização regular – diria mesmo, anual de eventos de promoção destas tecnologias nas escolas, institutos e faculdades e a gratificação dos (poucos) quadros médios e superiores nacionais já formados neste domínio, ajudariam a superação a curto termo este atraso e diminuiria o recurso aos estrangeiros na execução das actividades neste domínio nas empresas e instituições nacionais.

Antes de terminar, citaria uma passagem do livro do Dr. Carter Goodwin Woodson (The Mis-Education of the Negro*4), onde deixou claro como cristal, que “a maneira mais produtiva de ajudar os membros duma sociedade, é ajuda-los a se ajudarem eles mesmos … formando-os”.
E deixou ainda bem claro no mesmo livro: –
“ … O homem/mulher Africano deve aprender com outros povos, como pegar em mão o seu destino. Os Africanos não devem se contentar em seguir o vento. … porque é bem sabido que os povos que dependem muito dos outros, nunca têm mais benefícios no fim, do que tinham no passado “.

Se os poucos exemplos e factos aqui aludidos não nos convincerem, sobre os riscos que corremos como sociedade, nesta economia cada dia em movimento; então supliquemos a Deus para que nos acuda!
Em conclusão, encorajemos as boas iniciativas para que elas sejam realizadas mais vezes, e desta forma combater e vencermos, por mérito próprio, o analfabetismo digital no nosso país.
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*1 The World is Flat: The Globalized World in Twenty-first Century ” (Thomas L. Friedman 2005-2006
– Piguin books 2006, p.534).
*2 The Mis-Education of the Negro (Dr. Carter G. Woodson – First Africa World Press, Edition 1990, p.197).
*3 Silicon-Valley: Complexo construído em Califórnia-USA, com o objectivo de inovação científica e tecnológica, destacando-se na produção de Chips, na electrónica e informática
*4 Bangalore: Centro industrial de alta tecnologia e capital tecnológica em Karnataka-Índia.

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